21 de mar. de 2007


Escala de cinza

O mundo é preto e branco. O resto é frescura. Tudo que é colorido é mascarado. Bailes de raios compridos e ondas infreqüentes. Firula. O preto é o sólido. O verdadeiro. O único, sem mancha, sem mistura. Sem nada. E o branco é o tudo, o global, o infinito. Quer mais que a luz? Não precisa. Preto e branco são preto e branco. Complementares. Contrastes completos que vão da ordem ao caos, do início ao fim, do tudo ao nada. Eu sou meio preto meio branco, e todos somos. Não somos cores - nem quero ser cor - nem nunca fomos. Somos graduações diferentes de branco no preto, vazio sublime. Somos jatos de ausência, de preto vadio no branco atribulado. E chega de cor. Só se for pra capturar a realidade. Devemos ver o mundo preto e branco. Colores só pra variar de vez em quando.

20 de mar. de 2007


Çinto muito

Algo bastante estranho tem acontecido quando eu me sento em frente à esse Paixão de Bolso para atualizá-lo. Algo que nunca pensei que fosse acontecer. O fato é que, quando começou esse "projeto", eu imaginei que não teria imagens boas pra colocar aqui, e que mesmo assim eu sempre daria um jeito de escrever alguma coisa legal. Até prometi a interlocutores letras de música, poemas consagrados, e outras coisas do gênero. Começaram as postagens, e eu vi que era muito melhor escrever eu mesmo, as coisas que acho, e mais que isso, coisas que sinto. E eu sinto muito.

Sinto muito porque esse projeto está perto de ser esfacelado. Tenho uma grande abundância de imagens, a ponto de poder ficar um mês sem tirar nenhuma e poder atualizar o PdeB todos os dias sem maiores transtornos. Mas não consigo escrever! Não sai nada interessante. Eu penso, até tenho boas idéias, mas na hora de executá-las, é um fiasco total. Não sei se foi mesmo aquilo que escrevi, de ter perdido o personagem. Ou é falta de incentivo, não sei. Sei que o feedback dos comentários confirma essa minha sensação, de que o espaço está ficando ruim. Chato é a palavra. Até porque eu estou achando chato não ter o que escrever e ser obrigado, pelo número mínimo de postagens, a escrever qualquer coisa, como no post passado. Meu caderno com poemas anda às moscas. O blog não teve nada de muito interessante nesse último mês. Ai, ai. Não sou mais o mesmo, não.

17 de mar. de 2007

Milagreiro

Se eu soubesse a palavra que faria tudo acontecer, pode ter certeza que eu falaria. Mas ainda não sou santo. Nem pretendo. Só queria saber como fazer milagres.

15 de mar. de 2007


Exéquias

Como bem citou um grande amigo meu, é hora de recolher os restos mortais da paixão. Colocar num belo vaso o que sobrou da cremação de conversas extenuantes. Talvez enterrar, talvez pôr na estante, talvez aspirá-los como se fossem uma droga, ou ainda regá-los pra ver se brota uma outra paixão. Não sei o que fazer. Pessoas, quando morrem, vai o corpo e fica a memória. Paixões, quando morrem, fica a memória, mas também fica a apaixonante, viva, circulando ao seu lado, exalando seu perfume, sorrindo e dilacerando o resto de otimismo que restava no coração quase já pós-pós-moderno. O que fazer com as cinzas? O que fazer com as cinzas? O que fazer com o que foi a paixão? Pior. O que fazer com o que restou da paixão?
Já não tenho mais gavetas pra guardar tantas reminiscências. Tento esconder o que me faz lembrar pra que eu não fique lembrando o tempo todo. Mas não consigo. A vontade passa corrando pelos meus arquivos de memória abrindo todas as portas, escancarando as gavetas, e quando vejo, todas as lembranças estão no chão novamente, atrapalhando a passagem, obstaculando, mas me fazendo feliz por ter amado de vez em quando, pois nobre é quem ama. Fazendo também o pior fracassado. Mas fazer o que?
Será que é só mesmo uma nova paixão que pode substituir uma antiga? E de novo, o que fazer com as cinzas?

14 de mar. de 2007


0 - Zero à esquerda

Acabo de apagar um início de texto muito ruim. Eu queria fazer algumas frases de duplo sentido sobre estar preparado. Mas não consegui. Acho que a minha competência de escrita escorreu pelo ralo junto com a água dos banhos que eu tomo. Não sei se isso é algo natural, se os rombos de inspiração são mesmo freqüentes, se são previsíveis, não sei. Sei que ontem tentei escrever um poema. Até consegui. Mas ficou medíocre. Medíocre com M maiúsculo. E agora estou escrevendo mais um texto que não aparente estar muito bom.

Vou confessar para vocês. Não foi a minha inspiração que morreu. Quem morreu foi o meu personagem. Era sobre aquele cara que eu escrevia. Aquele apaixonado inveterado, que não via mais nada na frente que não fosse o seu amor. Mas o homem morre junto com a paixão. E mataram a paixão. E mataram aquele homem. O que sobrou foi o alguém que servia de instrumento. Sobraram as mãos que tocam o teclado. Só sobrou isso. O amor foi. A paixão foi. E ficou esse alguém.

Pense numa cabeça. Isso eu tenho. Pense num coração.

Palavras medíocres.

13 de mar. de 2007


Dos jogos de palavras

O triste não está. O triste é. O sorriso talvez esteja. Mas nem sempre. Quem sempre está é a vontade. Mas nunca é. Só o triste é.

12 de mar. de 2007


Apaixonado procura

Apaixonado sozinho procura alguém disposta a receber muito carinho e atenção. Pré-requisitos: pode ser loura, morena, ruiva ou castanha; pele clara, média ou escura; alta, mediana ou baixa; que seja simpática, divertida e goste dos pequenos prazeres da vida, sem desprezar os grandes. Apaixonado procura alguém para ver filme comendo pipoca sob cobertas no inverno, rir dos macacos no parque, assistir comédias e melodramas no cinema, brincar com as mãos, sorrir, beijar de vez em quando, conversar sempre, sair sábado à noite e almoçar em família no domingo. Apaixonado aberto a novas idéias e visões de mundo. Interessadas favor subscrever-se nos comentários dessa postagem, ou em qualquer um dos espaços da grife "Blogs das Paixões", ou enviar e-mail ou recado em sites de relacionamento.

9 de mar. de 2007

Cento e Cinqüenta e Seis

Então chegou o 9 de março. Agora, que ele já está indo embora, dá pra dizer sem parecer piegas que sou um apaixonado por Joinville. Muitos dizem que vai ser difícil encontrar povo mais frio que o daqui, que a cidade é sem graça, que chove demais, que é chata demais e que é agradável de menos. O que eu sei sobre Joinville não é muito. Mas é tudo que eu sei. Porque tudo que eu sei eu aprendi aqui. Foi aqui que chorei pela primeira vez, também foi onde fiz meu primeiro gol. E o último também. Foi onde aprendi a escrever, onde conheci meus melhores amigos. Onde estão todos os inimigos que eu não criei. Foi onde beijei a primeira e a última menina. Foi em Joinville que eu conheci ídolos, que eu cultivei uma rede de contatos. Aprendi a ver princesas na cidade dos príncipes, que nunca recebeu um príncipe. Em Joinville eu fui o que eu era, e virei o que eu sou.
Os mais maledicentes vão me chamar de provinciano, vão me acusar de ter um pensamento pequeno e de não conhecer - nem saber - que tem um mundo pra lá da Serra Dona Francisca, e que do alto do Mirante do Boa Vista não dá, não, pra ver o mundo inteiro. O que eu sei de Joinville é que não foi a cidade que eu escolhi pra viver. Simplesmente nasci daqui, sou daqui, e desejo nunca na minha vida ter de negar que eu vim do nordeste. Do nordeste de Santa Catarina. Da cidade mais bonita do mundo. Que tem as mulheres mais lindas do mundo. E que tem o poder de apaixonar.
Joinville não é a minha cidade. Joinville é a minha vida. É muito provável que eu não more aqui pra sempre. Mas nunca vou embora daqui. Pois até onde eu for - mesmo que não caiba - vou levar desde a curva do arroz até o posto de Garuva no meu coração. E que desde o mais longínqüo arrozal do Vila Nova até o último grão de areia da Vigorelli, toda Joinville, sua terra e seu povo, vão viver na minha memória pra sempre.
Parabéns para a minha cidade. Parabéns para a minha Joinville.

6 de mar. de 2007


Venho, por meio desta, declarar que eu desisto.

Eu me cansei. Nunca estive nem perto de quem eu queria, e me cansei de vez. Já estive estafado outras vezes. Mas dessa vez me sinto cansado e vazio. Sou um quase-oco, um sem-vontade, um parvo. Não deveria, mas lamento por cada linha que escrevi. Lamento por cada minuto de sono e descanso que abri mão por ela. Lamento cada palavra de cada oração que fiz por ela nos últimos sete meses, por cada vez que suspirei, cada vez que sonhei. E, acima de tudo, lamento imensamente ter acreditado que poderia ser feliz com ela. Fico muito triste pela agonia que sofri calado durante esse meses, pelas vezes que chorei, pela vezes que sorri, iludido ou tentando iludir alguém com uma pretensa alegria constante. Fico muito triste por ter gostado dela e não ter recebido nem uma chance de falar isso claramente. Lamento tudo que fiz errado por minha pequeneza. E lamento por tudo que fiz certo, pois me sinto como um professor que ensina latim para um amontoado de pedras. Sinto que falei para as paredes, gastei as melhore spalavras que eu tinha, jogando-as num poço sem fundo. Se era frustrado por não ter tentado, hoje estou melhor. Me sinto um fracassado. Mas antes um fracassado que tentou que um frustrado por não ter tentado. O meu problema foi ter errado na idéia, ter acreditado que sentimento e palavras bonitas enfileiradas poderiam falar ao coração, poderiam agradar as idéias. O problema também foi ter errado no plano, ter tentado fazer as coisas de maneira que fosse mais agradável e confortável para ela. Ter mantido segredo. Não ter querido expô-la. Não ter querido desgastá-la. Erro na execução. Num pretenso romancismo, fui covarde. Mas o erro maior foi ter gostado de alguém que nunca vai gostar de mim. Alguém de quem nem sei se já merece um sorriso sincero. Alguém que não sei se lamenta como eu ou se vibra. Alguém que não sei se sente. Lamento do fundo do meu calculismo não ter calculado que me apaixonar por alguém como ela seria um grande erro. Um gol contra. Que ela é uma grande muralha. Um algo intransponível que eu sonhei conquistar, com quem sonhei várias vezes compartilhar bons momentos felizes. Minha prepotência achou que eu poderia conseguir fazer feliz um alguém por quem me apaixonei. Mas hoje notei que não sou capaz. Por isso desisti. E lamento muito por não ter o feito antes.


OooO

E para você, minha paixão, eu digo que senti algo que mudou a minha vida. Que a paixão que senti por ti me fez muito bem. Me fez escrever melhor, me fez ver a vida melhor. Que durante os mais de sete meses que foi apaixonado por você vivi sozinho a mais linda história de amor da minha vida. Que sorri por dentro cada vez que pensei em você. Que vibrei cada vez que eu te vi. Que com você pude atuar no melhor romance a que já assisti. E que mesmo sem saber você me fez alguém muito feliz nos meus sonhos. Que sem saber foi a melhor mulher que já tive. Que cada vez que me magoei pela sua rudeza, seu destempero, cada vez que engoli minha insatisfação perante os maus tratos que você cometia e nem percebia, o perdão foi maravilhoso, trouxe a paixão mais forte e viva. Digo para você que penso ter te amado quando perdia o controle sobre o que sentia. E digo que fico muito triste por você não ter podido viver a intensidade dos momento que eu tive a oportunidade de vivenciar pela sua paixão. E, finalmente, que lamento profundamente que tudo que eu vivi não tenha acontecido de verdade.

4 de mar. de 2007


A retórica do perdão

Me desculpe se eu não sou tão bom quanto deveria, se o que eu faço ninguém faria. Me perdoe se eu minto, me desculpe se eu falo a verdade. Se eu quero e não falo, se eu não falo e parece. Se eu faço e não deveria, se não faço o que de fato você queria. Se tiro o ar. Se tiro a privacidade. Se tiro o corpo fora. Se faço errado. Se faço certo. Se não olho quando poderia, e se olho quando não podia. Me perdoe por te amar, me perdoe por não gostar. Desculpe por ser assim, e por não ser assado. Perdão por não ser discreto. Me desculpe por não me controlar. Me desculpe por pedir desculpas.

A todos a quem eu devo algum tipo de desculpas.

2 de mar. de 2007


§ Meu coração bate ligeiramente apertado

§ Talvez eu seja simplesmente.
§ Quando dei por mim, nem tentei fugir
§ O amor vai até onde os sonhos conseguem chegar
§ Acho que gosto de meninas e meninas
§ O tempo passa e com ele caminhamos todos juntos sem parar
§ Tentei chorar e não consegui
§ Não há nada mais que a gente possa fazer
§ Eu não sou cachorro não
§ Quando vi os teus lindos olhos brilhando em outra direção olhando e eu [não existia pra você me apavorei
§ A minha vida eu preciso mudar
§ Mil e uma noites de amor com você
§ E um beijinho em minha Cinderela
§ Se você quiser experimentar sei que vai gostar
§ Ando tão à flor da pele
§ Guardo teu tesouro
§ Eu me apaixonei pela pessoa errada.

1 de mar. de 2007


De quando eu viajei por várias dimensões

Eu estava caminhando tranqüilo pela rua quando de repente desmaiei. Caí, bati a cabeça e morri. Fui ao céu e me disseram que não poderiam me aceitar porque eu era bom demais. Fui ao inferno e me disseram que não poderiam me aceitar porque eu era ruim demais. Caí no purgatório, e me disseram que até a decisão de ficar em cima do muro era uma decisão. Fui conversar com o responsável pela entrada de novos habitantes no outro mundo, e ele me disse que era a primeira vez que um alguém que se foi - ele não disse "se foi", disse "se veio" - não era aceito em nenhuma dimensão. Falou que se eu fosse ao limbo talvez eles me aceitassem como babá das crianças que não foram batizadas, já que o papa resolver fechar aquele estabelecimento. Lá chegando, me disseram, que eu era maledicente demais, não podia viver com as crianças. Voltei ao chefe, e ele tentou falar com a terra, para ver se eu poderia voltar. O responsável dessa repartição disse que não. Disse que eu era inocente demais para viver no mundo. Não me lembro mais o que aconteceu depois. Só sei que eu acordei em frente ao antigo Bola de Fogo, estirado no chão, com muitas pessoas em volta,perguntando como eu estava, se eu estava ferido e coisas do gênero. Eu me levantei, agradeci a preocupação, e segui meu caminho para a Revi. Ultrapassei o cadáver na frente do portão, o portão, o homem que fica depois do portão, desviei do carro que entrou pelo portão e senti algo estranho no bolso da camisa. Abri o bilhete e li. Estava numa letra mui cursiva:


"Jouber Paixão. Você não serve para lugar nenhum. Não presta para o céu. Muito menos para o inferno. Não é digno nem do puirgatório nem do antigo limbo. O menos pior é que fique na terra. Mas como castigo por ser essa máquina de nada, esse gênio vazio e redundante, tudo que você quiser, o terá ao contrário. Queira amor, e tenha ódio. Queira bem, e terá o mal. Pense o sorriso e leve o tapa. E estará condenado a viver para sempre com essa sina a partir do momento em que tentar enganar querendo o mal, tendo o ódio e dando o tapa. Queira o mal, filho da Paixão, e você estará fudido. Dê muita paixão. Muita. é o máximo que você pode fazer. Mas nunca terá o que quer.
Ass: Chefe".

Chorei. Chorei. Chorei. Andei. Subi. Chorei e vivi. O resto que havia. E assim estou até hoje.