15 de mar. de 2007


Exéquias

Como bem citou um grande amigo meu, é hora de recolher os restos mortais da paixão. Colocar num belo vaso o que sobrou da cremação de conversas extenuantes. Talvez enterrar, talvez pôr na estante, talvez aspirá-los como se fossem uma droga, ou ainda regá-los pra ver se brota uma outra paixão. Não sei o que fazer. Pessoas, quando morrem, vai o corpo e fica a memória. Paixões, quando morrem, fica a memória, mas também fica a apaixonante, viva, circulando ao seu lado, exalando seu perfume, sorrindo e dilacerando o resto de otimismo que restava no coração quase já pós-pós-moderno. O que fazer com as cinzas? O que fazer com as cinzas? O que fazer com o que foi a paixão? Pior. O que fazer com o que restou da paixão?
Já não tenho mais gavetas pra guardar tantas reminiscências. Tento esconder o que me faz lembrar pra que eu não fique lembrando o tempo todo. Mas não consigo. A vontade passa corrando pelos meus arquivos de memória abrindo todas as portas, escancarando as gavetas, e quando vejo, todas as lembranças estão no chão novamente, atrapalhando a passagem, obstaculando, mas me fazendo feliz por ter amado de vez em quando, pois nobre é quem ama. Fazendo também o pior fracassado. Mas fazer o que?
Será que é só mesmo uma nova paixão que pode substituir uma antiga? E de novo, o que fazer com as cinzas?

3 comentários:

Fran Hellmann disse...

É, muito boa pergunta essa!

Beijão!

Anônimo disse...

deixa as cinzas num lugar onde bate vento. aos poucos ele leva elas. ou quem sabe, um vento forte varre essas cinzas duma só vez.

Patrícia Debortoli disse...

Acho que vc deve apenas guardar as lembranças boas dessa paixão no coração, as ruins vc leva como experiência e aprendizado, enquanto as cinzas... bem, essas vc joga no mar, ou enterra no quintal.

:*