Do que o escuro tem a oferecer
Ontem, por volta das 23h10, o Boa Vista viu algo diferente. Não, não desceu do céu uma nave espacial com algum alienígena salvador que viera para salvar a Terra da calamidade total e levar toda a nossa população a um planeta longínqüo, onde todos seríamos felizes. Também não foi Deus que desceu à Terra pra avisar que acabaria com todos os conflitos e aniquilaria todas as injustiças correntes. Simplesmente a luz apagou. Toda. Não sobrou nem luz de emergência. E com ela pararam de funcionar todos os aparelhos elétricos, eletrônicos e afins. O morador da zona leste ficou sem TV, sem PC, sem AM e FM, sem CD, sem DVD, sem nada. Tinha água gelada, mas por pouco tempo, já que refrigeradores de toda a espécie também não funcionavam. Os primeiros 30 segundos serviram para que o boavistense se localizasse no escuro apalpando seus móveis e paredes, para que tirasse seus eletrodomésticos da tomada e pensasse no que funcionaria ou não quando acionado. Passados esses 30 segundos, foi à busca de lanternas e velas. A despeito de tudo isso, a visão, nesses 30 segundos (como acontece com todos num ambiente escuro), já dilatara suas pupilas. E assistiu a um belíssimo espetáculo. Viu que não precisava de luz. A lua grande no céu era uma lâmpada de milhões de watts, iluminava tudo que quisesse, penetrava nuvens, furava bloqueios, e clareava quem quisesse ser clareado. Digo isso porque muitas pessoas não a pereceberam. Eu percebi. E me posicionei num lugar onde pudesse ver o máximo de espaço possível. E dali vi, em cada casa uma vela acendendo, o vizinho procurando os cachorros com uma lanterna, vagalumes que piscavam aqui e ali, e a lua. A lua. O escuro, as trevas, sempre foram sinônimo de sofrimento, de agonia, de solidão, do mal. Mas ontem esse escuro me mostrou que ele é, na verdade, um grande templo da imaginação. No escuro, os pontos das estrelas se uniam aos vagalumes, as velas eram respingos da tinta que iluminava os outros bairros que não tiveram a oportunidade de presenciar o show que o escuro fazia só pra nós. As nuvens pareciam uma espécie de telhado de neon, e o ar era quente, mas não desagradável. O show acabou quando a energia elétrica foi reestabelecida. Mas vive na memória de quem saiu ao relento na noite de segunda.
3 comentários:
Aqui no lado sul da cidade não faltou luz ontem.
Fiquei até bem tarde com a companhia da claridade elétrica. Depois apaguei, abri as cortinas e a janela, e me arrependi de não tê-lo feito antes. A lua iluminava mais que o abajur...
Há quem vá dizer que não tem nada haver, mas pra mim a noite passada teve um "q" de especial... Não sei por quê.
Beijo!
As palavras não vêm. Os olhos ficam marejados.
Nesta negra parte da cidade, incrível crer que a luz da lua cintila nas folhas, nos muros, na rua... Que reflexos mudam de cor e de forma, tal qual nossos pensamentos.
Dica valiosa.
Bela descrição.
Ih, aqui não faltou =P
Ainda bem, pq tenho medo de escuro.
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