Meu Eu social e a Vanessa
Hoje é dia de falar da minha paixão pelas relações sociais. Belas e complicadas por natureza. Toda a minha reflexão começou quando, hoje pela manhã, fui ao Big, por ser o dia das promoções de frutas e verduras (aliás, não sei se meus estimados concordam, mas depois que o Big foi assumido pelos norte-americanos do Wal-Mart, tudo virou uma porcaria).
Eu caminhava com a minha adorada mãe pelos corredores bíguicos quando avistei, de costas, uma bela garota, que também fazia compras com uma senhora que aparentava ser sua mãe. Depois de olhar furtivamente mais duas vezes, como reza a convenção da sociedade*, notei que a conhecia de vista, era uma menina que estudava na mesma escola que eu e era meu contato no Orkut. Puxando um pouco mais da memória lembrei do seu nome: Vanessa. E mais. Lembrei da nossa sina histórica. É um alguém com quem me encontro seguidamente, mas nunca temos oportunidade de nos cumprimentarmos. (O caso é o seguinte: uma vez a encontrei, mas não percebi quem ela era, e acabei não cumprimentando. Ela, de orgulho ferido, muito provavelmente, fez o propósito de nem assentir mais com a cabeça para aquele "mal-educado que pensa que é alguém", no caso, eu). Comentei a situação com minha mãe, e ela perguntou se ela não era metida por natureza. Disse que não sabia, já que nunca havia conversado com ela.
Aí começou o balé. Fomos à seção de hortifrutigranjeiros ao mesmo tempo. Eu parei meu carrinho de um lado da banca das batatas (que estavam a R$ 0,38). Ela parou seu carrinho do lado oposto. Eu, apaixonado por esses joguinhos de egos, enquanto ensacava os limões a acompanhava com os olhos na região das maçãs. Fui ao carrinho depositar o saco com os pimentões, e no corredor ela veio na direção oposta, com um saco de uvas. Eu pensei: "É agora que eu vou quebrar o tabu!". Quando eu firmei o olhar, ela olhou para o lado. Comecei a me sentir um atacante que duela com um zagueiro. Quando ele vem com a bola dominada, pronto para driblar o defensor, este estica a perna, e vai embora com a bola. Ou quando o cruzamento vem açucarado e a cabeçada já está engatilhada, a cabeça salvadora intercepta a bola e arma o contra-ataque. Mas eu estava determinado. Nem que ficasse ali até as seis da tarde, eu ía cumprimentá-la e dar um belo sorriso.
Não sei se ela compartilhava da minha vontade, ou sabia da minha intenção, o que sei é que ela fez o possível para dificultar minha missão. Mas quando eu trouxe o alface ela não teve escapatória: demos de frente ao lado das balanças. Ainda jogou a cabeça para a direita, mas eu já a havia driblado. Ela, meio sem jeito, levantou o olhar e me jogou o charme característico feminino, em pequena quantidade. Eu soltei o meu "oi!" triunfante com o peito do pé no ângulo da meta de cabelos dourados.
* A convenção da sociedade é um tanto complicada, isso é fato. Tento me encaixar na condição que mais me favorece, a que mais se assemelha comigo. Esta prega que uma pessoa que se pretende elegante e educada não deve "secar" um alguém do sexo oposto de forma muito assintosa, pois tal atitude é de extrema deselegância, e pré-qualifica um futuro posível relacionamento, de cara, com uns dez pontos a menos. Bom, isso é a versão oficial. A de uso comum é que muitas mulheres gostam de ser oberservadas, e até se sentem à vontade perante situações de falta de cavalheirismo masculino. Mas eu ainda acredito num pudor feminino, não por gênero, mas por decência. Mas sou realista: a hipocrisia impera (e isso não é necessariamente ruim).
Um comentário:
Adorei este seu lado apaixonado pelas relações sociais, não o conhecia... Texto perfeito!
Beijo!
Ps.: Um dia você me ensina a jogar um oi com o peito do pé?
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